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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Arrigo Sacchi um revolucionário vivo!

Arrigo Sacchi um revolucionário vivo!

Afirmar que num passado recente o futebol de um país então tricampeão mundial foi revolucionado pelo esquema 4-4-2, tão comum nos dias de hoje, pode parecer no mínimo estranho. Mas foi o que ocorreu com o futebol italiano do final da década de 1980 e início da de 90, que viu surgir um revolucionário tácito e, com ele, uma nova forma de encarar o jogo.


Arrigo Sacchi é o homem em questão. Campeão italiano e bi europeu pelo Milan e técnico da Azzurra por cinco anos, ele endrentou os críticos e levou o país da bota a acreditar que sim, é possível jogar de maneira eficiente e bonita ao mesmo tempo.


Sacchi não teve o que pode se chamar de uma carreira comum. Ao contrário de praticamente todos os seus colegas de profissão, jamais jogou profissionalmente. Mas sabia, desde menino, que queria ser treinador de futebol.


Nascido em Fusignano, região da Emilia-Romagna, no dia 1 de Abril de 1946, o futuro treinador foi um jovem vendedor de sapatos e estudante de Contabilidade. Mas o que ele gostava de estudar mesmo era o futebol, as variações do jogo. Não raramente, viajava com o seu pai – proprietário de uma fábrica de calçado – por feiras do sector espalhadas pela Europa e escapava para assistir aos jogos de equipas como Bayern, Manchester United e Ajax no estádio.

A carreira de treinador começou aos 26 anos de idade. O primeiro desafio apareceu logo de caras: comandar pessoas mais velhas na equipa amadora da sua cidade natal. Ele encarou o mesmo, mostrando que a sua maneira de pensar futebol ofensivamente poderia garantir títulos, o que de facto ocorreu.



O sucesso fez Sacchi deixar a cidade para trás e começar a viagem por Itália, alternando entre equipas de divisões inferiores e categorias de base de várias equipas, entre eles a Fiorentina. O seu excelente desempenho por onde passou chamou a atenção dos dirigentes do Parma, que na altura se encontrava na Série C1.

O treinador assumiu a equipa em 1985 e logo na primeira temporada conquistou o acesso para a Série B. No ano seguinte, consegui o sétimo lugar na Segunda Divisão Italia.

O Parma de Sacchi praticava um futebol bem diferente da maioria das equipas italianas da época: ofensivo e com muita movimentação dos jogadores, seja com a bola ou sem ela. O treinador começava a mostrar a teoria que viria a dar muito sucesso no Milan, pouco tempo depois: a de que a equipa deve ditar o jogo quando possui a posse de bola e controlar o espaço quando a bola estiverno poder do adversário.


Vencendo o Milan, vai para o Milan!

O grande salto na carreira de Arrigo Sacchi começou quando Parma e o Milan se cruzaram na Taça de Itália na temporada de 1986/87. O sorteio colocou as duas equipas no mesmo grupo e, mesmo jogando em San Siro, o Parma surpreendeu e venceu por 1-0, resultado que lhe garantiu o primeiro lugar do grupo.Quis o destino que as duass equipas se enfrentassem novamente logo depois, nos oitavos de final. Nova vitória do Parma em San Siro por 1-0 e um empate a zero na 2ª Mão eliminaram os rossoneri e classificaram a equipa de Sacchi para os quartos de final – acabou por ser eliminado pelo Atalanta.
Era apenas o segundo ano do poderoso Silvio Berlusconi à frente do Milan e a performance do Parma fez o mesmo apostar na contratação do revolucionário treinador. Então, em Junho de 1987, Arrigo Sacchi desembarca em Milão para assumir o comando do gigante no lugar do sueco Nils Liedholm e iniciar aquela que seria a fase mais gloriosa da sua carreira.


Apesar do bom retrospectivo apresentado até então, o treinador enfrentou uma grande oposição da imprensa nos seus primeiros tempos em Milão. As críticas passavam, principalmente, pelo facto dele nunca ter sido um jogador profissional. E foi a partir delas que Sacchi cunhou uma das suas mais famosas frases: “Não sabia que para se tornar um jóquei você tem que ter sido primeiro um cavalo”.

Além do impacto natural que uma frase de efeito causa, era o aviso aos críticos: ele não se intimidaria e colocaria em prática o seu modo de trabalho, pouco convencional para os padrões da época.

A implantação do chamado “futebol total” apregoado por ele passava por mudar a mentalidade dos jogadores. Era preciso jogar com mais intensidade, movimentar os jogadores em campo, diminuir o espaço do adversário, enfim, que cada um contribuísse para a equipa como um músico o faz para uma orquestra. 

A primeira temporada dá o tónico do que seria a passagem de Arrigo Sacchi por Milanello. A equipa compreende a filosofia do treinador, torna-se solida na defesa e vigorosa no ataque e conquista o Scudetto de 1987/88, superando por três pontos o Napoli de Maradona e Careca – com direito à vitória por 3-2 em pleno San Paolo. Era o primeiro título da era Berlusconi.


O Milan histórico!

Esquema do AC Milan.
Aquele Milan histórico era baseado num até então inédito sistema de marcação por zona e num 4-4-2 extremamente ofensivo (Sacchi exigia que, ao atacar, cinco jogadores estivessem sempre à frente da linha da bola). O treinador muitas vezes interrompia o treino e posicionava os atletas do modo como queria que eles se dispusessem em campo, sem a bola. Megafone e diagramas de posicionamento tácito eram ferramentas comuns nos seus treinos.

Mas aquele Milan talvez não tivesse sido tão histórico se não tivesse feito o que fez sobre nada mais, nada menos do que o Real Madrid, em San Siro, no dia 19 de abril de 1989, no joga da 2ª Mão da meia-final da Liga dos Campeões. O Milan aplicou uns sonoros 5-0, curiosamente com um golo de cada uma das principais estrelas da equipa: Ancelotti, Rijkaard, Gullit; Van Basten e Donadoni - pode ver o golos do jogo aqui em baixo e o jogo completo clicando aqui.




A partida é considerada, até os dias actuais como uma das maiores exibições de uma equipa de futebol de todos os tempos. Uma verdadeira aula tácita e, não custa lembrar, que o Real tinha jogadores do naipe de Sánchez e Butragueño.

Na final da Liga do Campeões, disputada em Barcelona, os rossoneri aplicaram um 4-0 sobre o Steaua Bucareste, da Romênia, que na época contava com a magia de Hagi.

Para se ter uma ideia da potência e qualidade daquela equipa, a revista inglesa World Soccer a elegeu como a mais forte equipa de clube de todos os tempos - sim a frente do actual Barcelona - e a quarta melhor da história, atrás apenas de três selecções nacionais: Brasil de 1970, Hungria de 54 e Holanda de 74.

A vitoria na Liga dos Campeões seria novamente repetida por Sacchi e pelo seu Milan fenomenal no ano seguinte, com a vitória de 1-0 sobre o Benfica, em Viena, com um golo de Rijkaard.

A temporada de 1989/90 consagrava também o Milan como vice no Campeonato Italiano (perdido na última jornada) acabando depois por vencer a Taça de Itália.

Ainda no Milan, Arrigo Sacchi ganhou a Supertaça da Itália em 1989, a Supetaça Europeia de 1989 e 90 e o Mundial de Clubes de 1989 e 90.




Na Squadra Azzurra!

Em 1991, Sacchi deixa o clube que o consagrou e assume a selecção italiana. Era mais um desafio, visto que a Azzurra tinha acabado de perder um Campeonato do Mundo em casa e nem tinha atingido a classificação para o Europeu do ano seguinte.



Se não conseguiu o mesmo sucesso que obtive no Milan em termos de títulos, Sacchi teve o indiscutível mérito de devolver aos italianos o seu orgulho em apoiar a sua selecção nacional.



Com tempo para montar a equipa visando o Campeonato do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, o treinador não teve dificuldades para garantir a classificação italiana para o Mundial.

O início da Campeonato do Mundo, porém, parecia conspirar contra a Azzurra. Logo na sua estreia, uma derrota frente a Irlanda por 1-0. No jogo seguinte – vitória por 1-0 sobre a Noruega – nessa partida Roberto Baggio reclama publicamente de Sacchi por ter sido substituído e gera uma eorme crise interna.

Mas as coisas vão se recompondo e a Itália, muito em função do futebol do próprio Baggio, consegue chegar à final da prova, perdida somente na decisão por grandes penalidades, frente ao Brasil.

O ciclo de Arrigo Sacchi à frente da Azzurra duraria ainda mais dois anos, que foram utilizados numa tentativa de renovação do grupo.

Em 53 partidas ao comando da selecção Italiana, o treinador teve um registo de 34 vitórias, 11 empates e 8 derrotas, com 90 golos marcados e 36 sofridos.


Sem medir as palavras!

Depois de deixar a selecção Arrigo Sacchi voltou ao Milan, desta vez para alcançar apenas um 11º lugar, em 1996/97. Na temporada 1998/99, trabalhou por sete meses no Atlético de Madrid, sem qualquer sucesso.






Mais curto ainda foi seu retorno ao Parma, onde esteve no banco por apenas três partidas antes de se afastar por sugestão médica e assumir o cargo de director técnico do clube, no qual permaneceu por três anos. Exerceu a mesma função no Real Madrid.

Talvez como unico ponto negativo da carreira, é possível destacar a super-valorização que ele dava ao aspecto colectivo sobre o talento individual. O que fez muito mal a Roberto Baggio, por exemplo.

Sacchi divide-se nos dias de hoje entre comentar futebol no canal italiano MediaSet o cargo de coordenador técnico das selecções de base da Itália e de conselheiro no AC Milan. E assim como nos tempos de treinador, parece não pensar duas vezes antes de emitir opiniões. Recentemente, discutiu em directo na televisão com o avançado sueco Ibrahimovic, a quem chamou de individualista.

Arrigo Sacchi não pensa duas vezes antes de dizer o que acha. Afinal, o futebol que tanto ama e estuda é, como ele mesmo o descreveu numa célebre frase, “a coisa mais importante entre as menos importantes”.

1 comentário(s):

PP disse...

Gostei imenso deste artigo!

Parabéns ao autor! Foi muito bom recordar esse Milan.

8 de fevereiro de 2013 às 17:28

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