Opinião: Uma crise sem fim à vista

Opinião: Uma crise sem fim à vista

Já muito se escreveu e já muito se falou sobre o Sporting este ano, mas quanto mais vezes vemos os leões jogar, maior é a sensação de que ainda há muito por dizer. O Sporting está mal e os adeptos descontentes e, infelizmente para eles e para a competitividade do nosso campeonato, o fim da crise leonina ainda está longe, muito longe.

O primeiro problema data de 13 de Fevereiro, dia em que Domingos Paciência, "bandeira de campanha" de Godinho Lopes é despedido (para a maioria dos adeptos leoninos, o dia em que Godinho foi eleito é mesmo o primeiro dia da crise leonina, outros afirmarão que vem detrás, mas o mau momento presente dos leões terá mesmo começado pela saída de Domingos). É certo que o agora técnico do Deportivo não trouxe o sucesso ao Sporting, mas punha a equipa a jogar futebol (pelo menos os jogadores eram organizados e criavam oportunidades de golo) e foi talvez o melhor treinador a passar por Alvalade desde Paulo Bento. Depois da saída de Domingos, veio o sportinguista Ricardo Sá Pinto. A prestação na Liga Europa e a vitória sobre o Benfica faziam parecer que o destino verde-e-branco podia mudar. Mas a equipa jogava pior e a derrota na final da Taça de Portugal trouxe as "nuvens negras" de volta a Alvalade.

O segundo problema é já relacionado com a nova época. Dois dos melhores jogadores leoninos em 2011/2012 (Matias Fernandez e João Pereira) abandonaram o clube a preço de saldos. O caso de João Pereira é ainda mais grave, pois o lateral até teve uma boa prestação no Euro, mas foi vendido antes da competição. Para o lugar do português apostou-se na "prata da casa", com Cédric a ganhar o lugar. A época do jovem tem sido desastrosa e a maioria dos golos sofridos pelo Sporting têm origem do seu lado. Já para o lugar de Matias, tem-se alternado muito. Izmailov passa muito tempo lesionado e não conta, tendo até a transferência para o Porto quase fechada. No início da época, essa função era de Adrien. Adrien é um "8", sabe transportar a bola e começar a construir, mas não é um jogador de passe criativo, para a posição de médio-ofensivo. Ultimamente Pranjic tem sido o titular da posição, mas também não é um criativo e a ala é talvez o seu habitat. Fala-se em Marcos Roja, o jovem neozelandês. Será a solução? Ninguém sabe, mas a adaptação não será fácil.

Outro problema prende-se com a falta de liderança e de um jogador que transmita aos recém-chegados o que é o Sporting. Rui Patrício é o que está há mais tempo em Alvalade, mas está longe de ser um líder nato. O que mais se aproxima desse papel é mesmo Rinaudo, mas o tempo no Sporting ainda é curto para o argentino. Já não há em Alvalade jogadores como Polga que saibam transmitir a grandeza do Sporting e o que mais se aproximava disso era Daniel Carriço, mas já foi embora. Mais um símbolo da aposta nos jovens, um ex-capitão vendido por pouco e a sair pela porta pequena.

Mas o atual treinador do Sporting também não escapa à culpa. Franky Vercauteren chegou como um desconhecido e sairá, daqui a pouco tempo, como mais um que nada foi capaz de fazer para melhorar a situação. Aliás, se com Sá Pinto o Sporting jogava pouco, com o belga a qualidade de jogo é nula. Não há fio de jogo, os jogadores parecem perdidos em campo e as oportunidades escassas. De uma coisa Vercauteren parece ser capaz: manter os jogadores "na linha". Mas pô-los a jogar com qualidade, já nem parece tarefa dele. Parece estar entregue a qualquer outro. Os rumores dizem que Jesualdo pegará na equipa na próxima época. Será sem dúvida o maior teste à capacidade de Jesualdo Ferreira enquanto treinador. Fácil é coisa que não será de certeza, se os rumores se confirmarem.

Por último, Godinho Lopes. Começou mal, com as suspeitas de que havia alterações nos votos durante as eleições. Gastou dinheiro, comprou muito, vendeu muitos (por pouco) e o Sporting... piorou. Para além disso, as finanças leoninas estão piores que nunca e não parecem perto de melhorar. O facto da equipa jogar mal só desvaloriza jogadores. Godinho tem outro problema: não sabe falar com a imprensa e comunicar com os adeptos. Quando o presidente diz alguma coisa sobre o Sporting, parece que este até está a fazer um bom campeonato e que tudo parece "rosas e arco-íris", quando a realidade é negra e o futuro não augura felicidade. Godinho Lopes rejeita demitir-se e ir a votos. Mas como em tudo na vida, há um momento para a investida e outro para a retirada. Este é, sem dúvida, o momento para a retirada, mas deve haver motivos superiores "ao amor pelo Sporting" que levam Godinho a não apresentar a demissão. Se amasse e conseguisse ver o estado lastimável do clube, já não estaria no cargo.

Acima de tudo, o Sporting parece ter um plantel equilibrado e com qualidade, mas a falta de competência, confiança e outros fatores impedem a progressão do clube. Esperemos que 2013 traga um Sporting melhor, para bem do futebol português e dos adeptos sportinguistas.